Com participação especial de Carlos do Carmo, no espantoso dueto em “A Lucinda Camareira”, e capa desenhada expressamente para o disco pelo Arquitecto Siza Vieira, “Camané Canta Marceneiro” concretiza uma vontade antiga de Camané em realizar uma homenagem a uma das suas maiores referências. “Queria entrar naqueles fados de forma verdadeira, sem imitar o Marceneiro. Mas tive primeiro de fazer o meu caminho. De criar o meu repertório. Só agora chegou o momento em que me consigo identificar tanto com os sentimentos vividos, como com os acontecimentos passados.”

E nenhum outro fadista da sua geração poderia reclamar tanta legitimidade para dedicar todo um disco a Alfredo Marceneiro. Só Camané coloca tanta intenção na palavra, na forma justa de contar uma história ao cantá-la. Se Marceneiro era um exímio escultor e intérprete de versos, Camané é aquele que hoje melhor os transporta na voz, fruto de um cuidado e rigoroso trabalho desenvolvido com José Mário Branco (produção, arranjos, direcção musical e supervisão artística) e Manuela de Freitas (supervisão artística).

“Não há nada mais triste / que andar-se uma vida à espera / do dia que nunca chega”, canta Camané em “Despedida”. A espera terminou finalmente. E, para nossa sorte, nessa procura de Camané vemo-nos perante um encontro iluminado com dois dos maiores intérpretes que a história do fado saberá seguramente guardar.